Minha sogra deixou que seu filho de 22 anos atravessasse o Atlântico, da Itália para morar per sempre no Brasil.
Vou deixar você aí pensando nisso: você, mãe de criança pequena que nem consegue imaginar que ela um dia vá ficar a 500 metros de distância do seu olhar ou abraço. Você, pai de adolescente que tem certeza de que aquela criatura que está aí testando todos os limites vai precisar sempre da sua orientação ou presença. Ou vocês que, ao verem o filho se tornar um adulto determinado e promissor, percebem que têm um companheiro para todas as horas. E então, ele vira para você e diz que vai mudar de país, e para um que fica a 12.000km de lonjura…
Já pensou? Na época, como eu era a que queria que ele viesse, também jovem, jovem, sem planos no horizonte de ser mãe de ninguém, achei natural. Só fui entender o tamanho do desprendimento de minha sogra, o quanto deve ter sido difícil ver esse filho partir, à medida que os meus foram nascendo e crescendo. A ficha caiu quando o mais velho fez os tais 22 anos e eu senti uma dor cúmplice, um grande respeito pela pessoa que acreditou num garoto cheio da arrogância, certezas e coragem inerentes à idade.
O fato é que esse filho veio, assim jovem, para sempre, da Itália para o Brasil. Aqui constituiu família e fez com que essa Nonna visse seus netos crescerem à distância. Mesmo assim, ela conseguiu ser presente, forte, influenciando seus descendentes com suas histórias, receitas e tradições. A ela, minha gratidão e admiração por não ter imposto dores a mais a esse filho desgarrado de casa e país. Por ter me visto como filha, como lar para o filho que partiu. Virou uma mãe longe, mas perto, para nós dois.
Eu falei receitas? Pense numa mulher que viveu sob a influência das culturas árabe, grega e italiana e as transferiu para a sua culinária. Já falei de uma receita que aprendi com ela aqui, os Tomates Recheados. Hoje, compartilho outra coisa que faz muito sucesso aqui em casa: Penne alla Vodka. Bom e fácil.
Penne ala Vodka
Ingredientes
Molho de tomate (uso aqueles em garrafa, passatas de tomate sem nenhum tempero além do sal. Ou o molho de tomate caseiro que também aprendi a fazer com a sogra. Assunto para outro post)
3 dentes de alho
Azeite de oliva
Pimenta calabresa ou peperoncino (a gosto)
Sal a gosto
1/2 colher de chá de açúcar
2 colheres de creme de leite
1/4 de copo de vodka
Folhas de manjericão
Como fazer:
Cubra finamente o fundo de uma panela com azeite de oliva. Coloque os dentes de alho e deixe que dourem levemente. Adicione o peperoncino e em seguida coloque o molho de tomate. Tempere com sal e 1/2 colher de chá de açúcar. Abaixe o fogo e deixe apurar, semi-tampado, por uns 15-20 minutos.
À parte, em uma tigelinha, coloque o creme de leite, a vodka e as folhas de manjericão.
Cozinhe a massa seguindo o tempo sugerido para que fique al dente, menos um minuto. Escorra a massa e misture com parte do molho, sobre a chama de fogão por um minuto, para incorporar o molho. Apague o fogo e adicione a mistura de creme, vodka e manjericão. E sirva, com o molho restante em uma tigela para quem quiser mais “molhado”. Parmesão ralado combina.
Bom apetite!
Imagem casa: Pinterest
Foto da sogra: provavelmente feita pelo sogro, 1960, Roma. * A sorte é que ficou um gêmeo com ela lá…
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Que estoria emocionante! E eu nao sabia que teu marido eh gemeo…Bjs….
Emocionante como sempre 🙂
Suzana Cavalheiro Debes ARTEMISTA – Galeria Atelier e Escola de Artes
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Jô, é muito bom ler suas postagens. A importância de uma família.
Beijos,
Manoel
Eu amo o q vc escreve. Bjs
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Chorei! Que liiiindo!!!!!!!
Brava Despina! Brava Jô!
Que post cheio de carinho e de delicadas emoções, querida Jô! Fiquei daqui de longe lendo tuas lindas palavras e me imaginando no lugar de tua valorosa sogra…Pois é,amiga, este teu post fala de sentimentos que só quem é mãe pode entender… Uma linda homenagem! E que delícia este “penne” com saborzinho italiano especial e carinho de mãe e avó… Tudo de bom!!!
Beijo grande aqui da carioca de plantão!!!
Teresa
Que história linda Jô…e que bonito seu olhar de gratidão e respeito a ela!
Adorei a receita.
Bjs e ótimo final de semana
Cara Jo ,carissima figlia,che omaggio bellissimo ,che parole delicate ,piene di Veri Sentimenti.si ho sempre saputo che Giancarlo si sarebbe realizzato avendo una compagna cosi fedele e amorosa che lo avrebbe aiutato a superare le difficoltà della vita.Grazie per tutto.Avete creato una bella famiglia e dei figli meravigliosi!Adesso aspetto un po per chiamarti perchè piango………..
Jô querida!
Fiquei emocionada lendo este teu relato; tenho 2 filhos, um com 28 e outro com 26, só de pensar já me arrepiei…moram conosco e nem penso em quando eles saírem…acho que é para sempre…rsrsrsr…quanto à receita do penne ala vodka, já salvei e imprimi…com certeza será meu próximo experimento! beijos e até mais!
Que delicado e afetuoso modo de falar da sua sogra.
A gente só entende mesmo quando nossos filhos criam suas próprias asas.
Faz parte do ciclo da vida.
Suas palavras me emocionaram…
Bjs
Minha amiga querida! Essas palavras , hoje, me serviram perfeitamente! Me fizeram pensar que muitas pessoas neste mundo viveram, vivem e certamente viverão esta experiência ¨bem ardidinha¨que estou vivendo hoje! Só me resta pedir à D’us que tudo seja compensado pela vida feliz e alegre que ela certamente terá………. Bjo
E poi dicono che sono scomparse le poetesse!
A proposito… Che ci fanno Ale e kosta in una foto in bianco e nero?
[…] fiquei de olho em umas toalhinhas de renda que encontrei na casa em Leros, que, segundo minha sogra, foram bordadas por sua mãe e tias, lá nos idos dos anos 1930. Um tesouro que quis eternizar em […]
Uau! De arrepiar! A tua mãe-sogra é uma mulher de fibra! Vocês se conheceram na Itália, seu marido e você?
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[…] marido é movido a paixões. Uma o fez atravessar o oceano e vir morar no Brasil… Com o tempo fui vendo que muitas outras paixões o movimentam. Quando se apaixona por um […]
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[…] grandes sortes que tive na vida foi encontrar um marido bacana como o meu, simpático e generoso, que morava lá longe, na Itália. Mais sorte ainda porque no pacote veio junto uma sogra grega! Só isso? Não, junto […]
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