A moça entra, seguida de perto pela filha – 4 anos, no máximo. Enquanto a mãe retoca o ruivo-cobre dos cabelos, a menina olha em volta e resolve que quer fazer as unhas. Alguma manicure disponível? Não, todas ocupadas, seguindo agenda apertada. Mas ela quer tanto… Sei que você consegue dar um jeitinho. Jeito dado, o primeiro faniquito:
– Quero ficar perto da minha mãe!
– Perto não dá, o carrinho não alcança.
– Mas eu quero.
Mãe, prevendo birras em evolução, para de lavar o cabelo pela segunda vez e revoluciona a geografia do salão.
– Pronto, agora você está pertinho da mamãe, tá bom assim?
Claro que não, a moça que faz a unha não tem esmalte da cor Chiclete. Esse sim é um problemão, minha filha precisa da cor Chiclete, alguém aí tem? Turma de manicures alvoroçada, a cor se materializa, outra crise superada.
Aí, o inevitável acontece: a menina fica com fome. Quer um pastel e um milk-shake. O salão não tem lanchonete, oh céus, e agora?! A mãe se abaixa na frente da criança, mãos nos ombrinhos e tenta explicar: “querida, pode ser água ou chá? Pastel a gente compra quando sair, prometo”. Pronto, essa foi demais. A princesa olha em volta, incrédula, faz bico, o queixo treme e o grito sai gigante daquela boca pequenina.
O fim da história deixo para você. Em um mundo ideal, a mãe finalmente lembra que aquela criaturinha tem só 4 anos e que ela devia ter ido brincar em um parquinho. Que quem manda aqui é a mamãe, que ela veio só acompanhar e não bagunçar o coreto. Que isso não se faz, entendido? E que ela vai ter que aguentar um pouco porque mamãe precisa acabar de secar o cabelo e depois vão comer alguma coisa. “Não quer a água? Que pena, vai ficar com sede mais um tempinho. E vamos parar de gritar que não é assim que se resolvem as coisas. Senta aqui e vamos ver se a gente acha uma bolsa cor-de-rosa na revista.”
Mas o que acontece, de fato, é a moça saindo apressada e de cabelo úmido, assoprando as unhinhas chiclete da menina que queria pastel.
O texto é auto-explicativo, eu acho. Não preciso me alongar sobre como a educação de crianças anda meio atrapalhada, pais criando pequenos reis em seus castelos que quando se deparam com a vida lá fora, descobrem que tantos reis e rainhas não vão saber se adequar às normas e regras que ainda existem por aí. Criados como centro do universo familiar, como se sentirão quando se descobrirem estrelas entre milhares? Centro de nada, afinal? Igual a tantos, no fim das contas? Regras ainda existem, são simples e necessárias para termos um mínimo de civilidade em nosso mundo. Precisam ser aprendidas em casa, simples assim.
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