Quem mexe com livro feito eu, cria uma antena para o tema. Desde que a Freguesia do Livro existe, vivo interessada no assunto. E que gosto de concidências, também não é novidade.
Pois bem, quando minha filha foi morar em Nova Iorque, há um ano atrás, no primeiro dia que estivemos lá, encontrei o mesmo livro que eu tinha acabado de “perder” no aeroporto de Guarulhos, só que em sua versão em inglês, história contada aqui. Marina pegou um dos livros que estavam em cima da tampa do lixo, método muito empregado pelos americanos para fazer livros circularem, no esquema Perca um Livro.
Esse ano, na escada perto da casa de Marina encontramos outro livro e lá deixamos aquele que ela tinha pego no ano passado, cumprindo o que ela havia escrito em um bilhete: “Obrigada pelo livro. Vou passá-lo adiante depois de ler. Ele vai continuar sua viagem!”, acompanhado por outros já lidos e que simplesmente não cabiam na mala.
O ciclo não pára, o livro vai parar em outras mãos. Quem sabe, na sua próxima viagem a Nova Iorque, você não o encontra em alguma escada?
E já que o assunto é NY e livros, aproveite para conhecer essa iniciativa que doa livros nos metrôs da cidade, para quem passa tantas horas no transporte público. A ideia é Relit NY: Read, Recycle, Repeat Literature In Transit (Leia, recicle e replique literatura em trânsito). Conheça aqui: Relit NY.
Aproveite e conheça também a Freguesia do Livro, um projeto que me tem dado muito trabalho e alegrias. Você também pode espalhar literatura por aí!
Como livros viraram uma ideia fixa na minha vida, natural que tenham me chamado a atenção nesse passeio em Nova Iorque.
Uma pequena livraria de sebo vende livros usados em estantes na calçada, por preços irrisórios. Entrar na loja é um momento de puro prazer, um caos literário com os títulos mais diversos ali ao alcance da mão.
Em Connecticut encontramos novamente prateleiras na rua, cheias de livros à venda, com um detalhe: não há ninguém vendendo, não há preço nos livros. O cliente escolhe nas prateleiras e na saída de um antigo trailler que abriga parte do acervo, deixa dentro de uma caixa o valor que considera justo. Lindo, né?
Aproveito para recordar minha fixação, a de que doar livros é bom e faz bem à saúde do país. Pense nisso e saiba mais sobre a Freguesia do Livro.
Você escapou de saber que agora existe a Freguesia do Livro? Que recebemos os livros que você quer (se não quer ainda, pense no assunto) doar e os encaminhamos para biblioteas comunitárias cadastradas em nosso site? Que temos uma página no Facebook que você pode curtir e divulgar tudo isso a seus amigos?
Enquanto você responde a todas essas perguntas, veja essa Bicicloteca que mostra o que pretendemos que aconteça por aqui: livros disponíveis em lugares improváveis.
E você também pode escolher, entre as alternativas abaixo, o modo como vai participar desse movimento literário, que vai tirar livros parados e fazê-los circular:
e) acho que livros não devem ser doados (sé-rio??!!)
Participe de algum jeito, conto com você. Muitos conceitos estão envolvidos no simples ato de doar um livro: consumo consciente, acesso à cultura, educação e responsabilidade social. Tudo isso.
O tempo passa rápido. Livros parados em sua casa estão deixando de ser lidos por outras pessoas. Pense nisso.
No final desse post você vai ver que venho falando muito de livros. Que gosto, que leio, que espalho.
Mas agora a coisa ficou mais séria. Nasce hoje a Freguesia do Livro como um movimento que faz livros circularem, um movimento lítero-libertário.
Estamos recebendo e distribuindo livros para pequenas bibliotecas livres, informais, comunitárias de Curitiba e região metropolitana.
O bom é que a Freguesia do Livro te oferece várias formas de participar:
– analisando seu acervo de livros com um novo olhar, com desapego e generosidade, para permitir que levem lazer e informação a outros leitores.
– se você conhece ou está diretamente envolvido com editoras e livrarias que possam ter estoques sem destino certo, conte para gente!
– a Freguesia do Livro tem um blog que está sendo lançado hoje. Você pode compartilhar o blog e a ideia com amigos. O desapego aos livros é tema de conversas longas e levemente insistentes. Até há pouco tempo, ter livros em estantes enormes era importante.
– se você também tem um blog, pode divulgar nosso selo. Lembrando que nosso foco não é apenas a doação de livros e a formação de pequenas bibliotecas comunitárias, mas também a multiplicação do projeto em outras cidades do Brasil.
– você pode se tornar Freguês: doar livros ou ser um Ponto de Coleta, ou criar um biblioteca livre em algum lugar improvável.
– você pode ser um apoiador do projeto e ter sua marca ou blog divulgada no blog da Freguesia. Editoras, livrarias, bancas de revista, blogs, pontos comerciais que abrigarem pequenas bibliotecas ou receberem doações de livros terão seus nomes associados a um movimento que dá acesso à cultura.
Blogs têm poder. A prova disso é vínculo que hoje temos com Juliette, uma brasileira que mora na Holanda e apaixonada por livros.
A história é uma delícia: Juliette, que acredita com toda a força da alma que o hábito da leitura pode transformar cabeças e vidas e que este hábito, quando adquirido na infância, faz toda a diferença na vida de uma pessoa, mora em uma pequena e linda cidade da Holanda chamada Zundert (cidade onde nasceu Vincent Van Gogh) e trabalha na Biblioteca Central de Breda, cidade com 170 mil habitantes e com 10 bibliotecas públicas. Livros novos chegam todas as semanas para serem inseridos no acervo das 10 bibliotecas e os antigos (em perfeito estado de conservação) são colocados à venda na própria biblioteca por um preço simbólico. “A primeira vez que vi um carrinho abarrotado de livros infantis que iam para venda, fiquei encantada e comentei que queria ter uma varinha de condão para traduzir todos para o português e mandar para o Brasil para bibliotecas comunitárias” escreveu ela.
Aí ela resolveu fazer mágica sem varinha de condão, mesmo. Conseguiu uns 100 livros, depois de contar aos encarregados o quanto crianças brasileiras seriam beneficiadas com essas lindas publicações. Selecionou os que não tinham texto e os que tinham pequenos trechos de escrita… traduziu, imprimiu e colou nos títulos e páginas: livros holandeses transformados em livros que crianças brasileiras poderão aproveitar!
Agora os livros estão chegando e o Sítio Vanessa e a Freguesia do Livro estão todos contentes. Deixo aqui a ideia. Todos podemos fazer pequenas mágicas.
Sempre te vi, sempre te amei. Mas nunca em ti me aventurei.
Declaração de amor às aquarelas e confissão de que me arrisquei a ilustrar uma historinha que escrevi. Não fazia ideia de por onde começar, o que precisava comprar. Aí, olhei minha enorme quantidade de tintas, lápis de cor, guaches e que tais e, na minha antiga e abatida caixa de lápis Caran D’Ache, vi escrito, pasmem, Aquarelável. Fácil, barato e ali, à mão. Restava saber como fazer. Nada melhor do que o velho método de acerto e erro. Mais erro que acerto, ok, mas uma delícia. Ilustrei do jeito que deu e perdi muito da qualidade ao digitalizar. Ao vivo são mais bonitas. Antes de ilustrar algo novamente, vou ter que me informar como meus desenhos em papel podem ser devidamente aproveitados.
No final coloco um vídeo que mostra o quanto a minha tentativa é meio patética.
O vídeo é lindo, o blog da Gennine é um encanto total. Não deixe de dar uma olhada.
Venho acompanhando o trabalho do Alessandro, do blog Livros e Afins, desde que o ArteAmiga existe. Estamos na mesma cidade, por isso vejo de perto suas inciativas, além de ler os posts diários que falam em tudo que se relaciona a literatura, cultura e que tais. Foi através dele que conheci a Daniele do Sítio Vanessa, com quem espero criar uma parceria para sempre. É dele a ideia da biblioteca na Panificadora Pote de Mel, da qual já falei aqui.
Alessandro há pouco viu mais uma de suas ideias se concretizar, proporcionando à cidade uma nova forma de difundir leituras: uma minibiblioteca. Lançou a ideia no Livros e Afins, arrebanhou colaboradores e fez acontecer. Bela iniciativa. Tomara que a primeira de muitas.
E é o Alessandro que vai nos dar algumas dicas para um novo projeto da Freguesia do Livro, que conto aqui em primeira mão. Como os livros que temos recebido em doação são muitos, resolvemos organizar essa história. Em breve, através desse blog e de outros comprometidos com a ideia, estaremos cadastrando bibliotecas informais, sociais e comunitárias para receberem os livros de acordo com o perfil de cada lugar. Difundindo, acima de tudo, o conceito da biblioteca livre. Mais um motivo para você levantar daí agora mesmo e lançar um olhar libertador aos livros que estão em suas estantes. Eles poderão fazer parte dessa ciranda de histórias que logo vai começar. Você não vai deixar seus livros empoeirados ficarem fora dessa, vai?
Nossa parceria já começou aqui, no blog Livros e Afins.
Quem me acompanha sabe que aprecio coleções, que valorizo memórias, que sou a favor de guardar o que compõe nossa história. Mas como também acredito muito em consumo consciente, acervo de livros passou a ser algo que tendo a questionar.
Sempre fui muito ciumenta com meus livros. Escrevia meu nome na primeira página, mês e ano em que os tinha ganho ou comprado, algum comentário sobre o que tinha achado deles. Carimbo ex-libris, número do meu telefone na frente e na última página, caso o emprestador chegasse ao final da história esquecendo que eu esperava a devolução, tudo anotado em uma ficha, tipo bibliotecária zelosa e guardadora. Olhava a minha estante com orgulho, livros que representavam meu modo de ser de acordo com a idade: os filosóficos da adolescência, os romances de quando os filhos eram pequenos, os suspenses que hoje me mantêm acordada.
Eu sei exatamente o momento em que tudo isso se quebrou: um dia, emprestando um livro de uma amiga, abri na primeira página e observei que ela tinha (oh, céus!) esquecido de colocar seu nome ali. Ao que me respondeu simplesmente: “não coloco nome nos livros. Eles não precisam ser só meus, devem passear por aí”. O famoso clic, sabem como é? Desde então tenho praticado o desapego.
O primeiro movimento foi eliminar a ficha de empréstimo. Quer devolver, devolva. Se não, tudo bem também. Em seguida percebi que tirar livros de minha estante (que não é um coração de mãe, portanto tem seus limites de espaço), abre lugar para novos. Para o desejo de novas leituras. E permite que os livros sejam reutilizados, usados por outras pessoas. E me ajuda a manter uma certa ordem, que é impossível quando temos demais.
Porque exatamente guardamos tantos livros? Para saber o que já lemos? Movidos pelo “quem sabe um dia vou querer reler”? Para parecermos cultos e intelectualizados? Não se ofenda, você que tem paredes cobertas por volumes sem fim, livros amados aos quais se apegou irremediavelmente. É só um outro jeito de ver isso, de refletir se os livros lidos não estariam sendo melhor utilizados se abríssemos nossas gaiolas culturais e os deixássemos voar.
Nosso verdadeiro acervo já está dentro de nós, dentro de nossas cabeças e lembranças. Os livros que lemos já deixaram suas marcas e isso sim é biblioteca – aquilo que guardamos de cada história lida. Há alguns anos anoto os livros que leio em um caderninho. Sinto não ter começado há mais tempo, jovem ainda, quando iniciei minhas tantas leituras. Esse teria sido o meu acervo, o lugar para guardar meus livros lidos. Os próprios, livros materiais, ficam livres para andar por aí.
É claro que existem os mais amados, quem os tira daqui? E tem aqueles com que alimento os leitores que ajudei a constituir, porteiro, secretária, ajudante doméstica. Então, um acervo rotativo se faz necessário. Mas, livros de ter por ter? Não quero mais. Adeus para eles. Que sejam bem-vindos na casa de outro alguém. Ou numa bibliotequinha informal, numa geladeira de padaria, em um banco de praça, na Freguesia do Livro…
Moral da história: alguns livros de seu acervo pessoal podem se transformar em parte de um acervo comunitário. Se também está repensando, lembre de nós. Recebemos e encaminhamos os livros que você já leu e quer que cheguem a outras mãos, a outros leitores. Tire da sua prateleira os livros que possam incentivar a leitura de pessoas que têm pouco acesso a eles. A Freguesia do Livro recebe e agradece. E espalha por aí! Temos uma página no Facebook que você pode curtir e ver todos os lugares onde já criamos pontos de leitura. Inspire-se.
Frase batida, eu sei: uma biblioteca não é feita de livros, mas sim de leitores. Se isso é óbvio, então me responda: o que produz um leitor?
Naquele mar de crianças que atendemos na biblioteca que a Freguesia do Livro montou na Vila Zumbi, algumas com vidas tão cheias de problemas que ler ou não ler deveria ser detalhe, muitas nos ignoram solenemente. Outras tentam se interessar e levam livros para casa, mas aí o descaso atávico e familiar faz com que os livros não sejam valorizados e, quando e se voltam, aparecem com cara de quem passou por maus bocados. Mas tem dois ou três que, assim, do nada, amam os livros. No meio daquela dura realidade, sentam-se concentrados, escolhem com critério, cuidam ao levar os títulos escolhidos e voltam todos pimpões para a troca na semana seguinte. E nos brindam com presentes como esse:
Alguém arrisca um palpite? Modelo em casa? Pouco provável, a irmã não demonstra o mesmo interesse. Acertamos nas primeiras indicações de leituras? Com certeza essa alternativa encheria nossa bola, mas ele já começou assim, leitorzinho voraz. É mais inteligente que os outros e por isso lê, ou porque lê é mais inteligente que os outros? Ou é só mais curioso? Ou os livros chatos obrigatórios da escola não amorteceram seus voos literários, como fazem com tantos?
Então é isso, não sabemos o caminho, mas não desistimos de procurar. Lá no fim dele sempre pode ter alguém que está só esperando um livro para se descobrir leitor.
Curitiba é conhecida pela quantidade e qualidade de seus parques. E são muitos, mesmo, e um é especial, o Bosque do Alemão. Além de estar imerso em uma floresta com grandes escadarias e estruturas de madeira, ele tem um caminho dentro do bosque onde andando, de tempos em tempos, você encontra painéis de azulejos que contam a história de Hänzel und Gretel (João e Maria). Bem no coração dessa pequena floresta está a Casa da Bruxa, que no nosso caso é uma simpática velhinha que, ao invés de comer criancinhas, prefere contar histórias para elas. A casa abriga uma biblioteca onde meninos e meninas podem deixar a imaginação voar, ao pé de uma lareira acesa, quando o frio por aqui aperta.
Estruturas de madeira e vista de Curitiba.
João e Maria nos azulejos. Dá vontade de deixar pedrinhas marcando o caminho.
Casa de Bruxa. Boa, porque conta história!
Tem bolacha da D. Erika no Bosque!
Falando em crianças e livros, me lembrei de mim, criança, e da minha relação com livros. Dá pra fazer uma lista das coisas que esse simples pensamento me traz:
1. as coleções da Condessa de Sègur e da Laura Ingalls que embalaram minhas fantasias de menina. Colonização americana e governantas faziam parte do meu imaginário.
2. minhas caminhadas pelos corredores do Sion, feliz feito um cabrito, mas controlada nos passos como a educação rígida exigia (não me matou. Será que não é disso que nossos filhos sentem falta?). Lá ia eu pegar mais um livro para encher a minha ficha de biblioteca.
3. na casa de meus avós, em Blumenau, nas frias férias de julho, a alegria que sentia ao encontrar as coleções de Condensados da Seleções de meu tio Werner, livros em português! Meu avô era um leitor que levava a coisa a sério, mas só lia (e falava) em alemão.
E falando em crianças e livros, também me veio o filme You’ve Got Mail, que tem essa biblioteca:
E essa cena:
Essa conversa sobre livros e crianças tem um objetivo, você já deve ter percebido, certo? O Dia das Crianças está chegando e esse é um excelente momento para você analisar livros infantis que tiver em casa. Ou arrecadar com pessoas que conheça. E gibis, sempre! E não precisa ser só livro infantil, pois hoje temos diversos destinos para os livros que você pode “soltar” de suas estantes. Chega de prender livros. Eles estão loucos para seguir viagem.
Se for de Curitiba, encaminhe-os para nós, para a Freguesia do Livro. Se for de algum outro lugar, procure iniciativas como a nossa, existe muita gente incentivando a leitura por aí. Para saber mais sobre esse trabalho: www.freguesiadolivro.com.br
Três coisinhas para encerrar esse post compridíssimo:
1. quando fui tirar as fotos no Bosque do Alemão, vi um taxi parado na frente do parque e seu motorista catando amoras! Aproveitei também!
2. Onde gosto de ler: A a combinação cama-abajour-livro para mim é imbatível, e com um friozinho lá fora, então, sensacional. Ok, a cama pode ser substituída por sofá, rede, toalha na areia, cadeira macia, colo. Ponto de ônibus, saguão de aeroporto, assento de avião, sala de espera de dentista, quem se importa. Relação sem endereço, ela acontece em qualquer lugar.
E você, onde gosta de ler? Conte-me, por favor.
3. Agora chega! Mais uma cena de um filme que gosto e que tem toda a história relacionada a um livro que precisa ser encontrado para que tudo dê muito certo. E o livro é o Nos Tempos do Amor e do Cólera, de Gabriel García Marquez. Sensacional.
Jô Bibas, fonoaudióloga e artesã. Aqui mostro minhas artes e ideias e de amigas de longa data. Cada uma com seu talento, seu jeito, suas cores.
Curitiba/PR.