SORTE E … GRÉCIA
2011
Fui buscar no dicionário. Sorte é destino, sina, força que regula tudo e cuja causa se atribui ao acaso. Boa estrela. Gostei dessa. Me dá o brilho que o conceito requer.
Sorte, a meu ver, rege muitas coisas. O que mais explicaria que pessoas que não se cuidam, podem ter vidas longas e saúde de ferro? E outras que regulam alimentação, sono, exercício, vitaminas, ciclos da lua, exames para tudo e… pimba, têm um troço qualquer? Sorte também ajuda a explicar a mim mesma, ao menos um pouco, porque a vida de alguns começa cor-de-rosa e continua navegando em águas claras, enquanto a de tantos parece fadada às dificuldades e carências.
Tenho sorte e sou consciente disso. Agradeço. À sorte e a quem a rege.
Uma das grandes sortes que tive na vida foi encontrar um marido bacana, simpático e generoso, que morava lá longe, na Itália. Mais sorte ainda porque no pacote veio junto uma sogra grega! Só isso? Não, junto com a sogra Déspina veio uma casa numa ilha grega! E é pra lá que eu vou! Eu e minha boa estrela.
Vou fazer o possível para postar de lá. Os costumes, as comidas, os doces (esses ficam por conta da Marina), as praias, as cores, o artesanato. Se a internet colaborar, vamos viajar juntos!
Uma imagem de Leros, a ilha para onde estou indo.
LEROS – A ILHA
Leros é uma das tantas ilhas gregas. Fica no Dodecaneso, uma das regiões do arquipélago, bem perto da Turquia. Se você é uma negação em geografia como eu, facilito mostrando um mapa. O Dodecaneso é o 10.
Para chegar lá, saímos de Curitiba em voo para São Paulo. Depois, São Paulo-Roma. Em seguida, Roma-Atenas. Como tudo deu errado no primeiro avião que atrasou muito, fomos perdendo todos os seguintes e tivemos que pegar mais um para Kos, para então finalmente entrar no Atenas-Leros. Esse trecho é feito em um avião muito pequeno para o meu gosto… E aterrisa em um aeroporto que tem uma pista de pouso também muito pequena para o meu gosto. A parte italiana da família que parte de Roma leva umas 5 horas para chegar lá. Para nós brasileiros é uma maratona de 24, quando tudo dá certo. Nesse caso,como não deu, Marina e eu levamos 38 horas para chegar em Leros…. Mas vale, eu juro que vale, porque o que vemos, já das alturas, é isso:
Leros tem 8.000 habitantes e a característica de não ser nada turística. Ali se vive a vida grega de verdade. Para chegar nas praias com nomes interessantes como Álinda, Pandeli, Vromolithos, Lakí, Gourna e Plátanos, nos deslocamos à pé ou de Vespa. Táxi só para vir e voltar do aeroporto, com o motorista oficial da família, que se chama Kostas e não fala uma palavra em inglês. Nesses momentos, minha sogra Despina é a salvação, já que o grego que aprendi há 2 anos está mais enferrujado que lata velha no mar. Mas quem precisa falar com uma paisagem como essa?
LEROS – A CASA
A casa onde ficamos em Leros foi construída em 1882. Em todos esses anos, teve seus tempos áureos e aos poucos foi decaindo. Coisas da idade… Há dois anos, filhos, noras e genros de Despina decidiram que a casa merecia uma reforma e que nós merecíamos mais conforto. Coisas básicas, como um chuveiro com teto e chave na porta. Até o ano passado, nossos banhos eram atrás de uma cortina (esvoaçante) e sob o sol ou as estrelas. Romântico, mas pouco privado.
A pintura da casa chegou a esse ponto. Mas considere que ela é uma senhora de 130 anos.
O chão da entrada estava assim:
As coisas melhoraram muito!
Mesmo que a casa não estivesse parecendo uma mocinha, com botox por todo lado, não teria problema, porque ela nos dá vistas como essa, do porto de Agia Marina (Santa Marina), da janela de um dos quartos (coloquei zoom na máquina, é bem mais longe). Observe as colinas atrás e veja o perfil que divisamos no por do sol.
- Vista do restaurante. A casa é uma amarelinha atrás da igreja…
- DE REPENTE, NADA.
Somos regidos por horários e compromissos. Até o fazer nada precisa ser maquiado com um motivo qualquer: estou sentado aqui no sol lendo um livro porque o médico mandou, mas já estou indo para o supermercado… Até quem, como eu, não tem um trabalho formal (nem informal, diria meu marido), vive no fio da navalha de agendas apertadas, do atraso, da neura da pontualidade, do trânsito afogado, dos intervalos preenchidos com o que supostamente parece com “vou aproveitar e fazer mais isso hoje para ter um tempinho livre amanhã”… O problema é que no “tempinho livre” de amanhã também vamos fazer algo para liberar o dia seguinte. A que ponto chegamos… evitando o ócio.
Aí, de repente, me vejo em uma ilha onde não há agenda, não há trânsito (não existem semáforos), se bobear até o tempo aqui está relaxado. Os compromissos se resumem às refeições, as comprinhas na quitanda, uma ou outra atividade de detalhes na casa, um restaurantinho. Fora isso, nada. Praia, mergulho, sol, jantar, conversa sob as estrelas até ver a primeira cadente ou o sono chegar. Nada de TV, nada de jornais, telefone inviável, internet restrita e economizada para o blog.
Que delícia de nada!
Imagens: http://www.weheartit.com
PARECE QUE ESTÁ FALANDO GREGO…
ΨΑΡΙΑ ΚΑΙ ΘΑΛΑΣΣΙΝΑ
Καλαμαρἀκια
Χταπὀδι στα κἀρβοννα
Γαριδεσ γιουβετσἀκι
Ξιφἰασ σουβλἀκι
Que tal? Isso é um trechinho de um cardápio. Em grego. Não bastasse o fato de que as palavras são desconhecidas, até o alfabeto é diferente! Pânico, mas a gente acaba sempre comendo muito bem. Por diversos motivos:
1. minha sogra fala fluentemente o grego.
2. o inglês é bem-vιndo e salva em muitas situações.
3. eu fiz curso de grego, lembra? Então me defino como pescadora: pesco uma palavra aqui, outra ali, quase nunca conseguindo combiná-las em algo com sentido. No fim das contas, é quase pior do que se não soubesse nada. Vou arregalando os olhos, achando que estou entendendo alguma coisa, me animo e, até conseguir articular algo coerente, o interlocutor já está a milhas de distância…
Na hora de ir ao supermercado, a coisa aperta: como saber o que é detergente para louça, o que é sabão e o que é amaciante para roupas, como acertar e trazer farinha de trigo ao invés de farinha de milho, já que todos os rótulos estão em grego? Dá para imaginar que compramos várias coisas por engano. A economia grega agradece. Divisas trazidas por turistas. Mas tudo bem, vale a pena. A gente sobe nas Vespas (nosso meio de transporte aqui) e tenta novamente. Hoje consegui até comprar carne, moída duas vezes, dois quilos em dois pacotes separados. Parece fácil? Tente explicar isso em grego…
* Só para complementar, no cardápio está escrito Peixes e Frutos do Mar: lula, polvo grelhado, bolinho de camarão e espetinho de peixe espada.
NOSSO ARTESANATO NA GRÉCIA
O ócio nos faz ficar meio criativos. Como meu cunhado Fabrízio, além de bom escritor, adora pequenas lidas em marcenaria, aproveitamos e nos divertimos. Há algum tempo, as esquadrias de algumas janelas da casa foram trocadas e devidamente guardadas. Escolhemos as melhores, lixamos, limpamos e transformamos em espelhos pela casa afora.
Fabrízio encontrou uma mesa de centro jogada fora por algum grego sem imaginação. O tampo de vidro estava quebrado e ele colocou um de MDF. Pintei, desenhei e cada membro da família personalizou seu peixe. No centro, o desenho da Terra, com os dizeres “Muitos países, muitos mares, uma mesma família”.
Também temos artesanato nosso trazido do Brasil para a Grécia. Bandejas enfeitam e são diariamente usadas para o café da manhã no pátio.
Prato da Raquel com azeitonas pretas. Super grego.
Aqui tem vento. Muito. O que é muito bom por um lado porque despista o calor, mas também torna os jantares que sempre acontecem no pátio fora de casa, verdadeiras provas de como não ver seu guardanapo sair voando ou manter seus cabelos longe da boca ao saborear uma garfada. Os guardanapos resolvemos com pedras. Cada um pintou a sua e a usa para mostrar ao vento quem manda. Funciona e é bonitinho. O cabelo? A solução é jantar de rabo-de-cavalo e tiara. Louca de linda.
Como comentei antes, outra coisa que temos aqui, é tempo livre. Então, jogar gamão combina muito bem.
Também tem o prato da família, feito pela Emília Wanda. E que tal ter uma foto do seu casamento em um porta-retrato em uma casa na Grécia? Eu ainda acho o máximo. Nada de perder a capacidade de valorizar as coisas boas que nos acontecem.
OS BICHOS GREGOS
A Europa, de maneira geral, tem uma condescendência com animais domésticos bem maior que a nossa. É evidente que mesmo no Brasil o amor por cães e gatos vem crescendo de maneira um pouco incômoda, para um país que deveria dedicar tanta energia emocional e financeira para uma grande parte carente de nossa população, mas, enfim… Deixemos para lá os discursos políticos.
Aqui cães, burricos e principalmente gatos, estão por toda a parte. Não causam espanto, se misturam à paisagem e viraram quase um símbolo da Grécia.
Esse é o único caso que já vi em que o cachorro tem o mesmo nome da dona. Ambos se chamam Lula. Sra. Lula cuida das cadeiras da praia onde ficamos (que custam 2,50 euros por dia) e chega cedo para organizar o pedaço. Cão Lula vem mais tarde, trazido pelo filho de Sra. Lula (dona do bar em que comemos, bebemos, ouvimos música, jogamos gamão e acessamos a internet – quase um segundo lar) e é bonito ver o reencontro. Lula cão desce a colina entre o bar e a praia sozinho e que não sossega enquanto não acha Lula, a dona.
- Também entra na categoria de gato grego, certo?
- GRÉCIA – AS CORES, AS FLORES, OS AROMAS
-
Feche os olhos e pense na Grécia. Que cores vêm à sua cabeça? Muito provavelmente azul e branco. Acertei?
E é isso mesmo. Céu e mar disputando o azul mais formidável, casas branquinhas e… bouganvilles! Elas surpreendem, encantam, trazem cores exuberantes e pintam a a paisagem de pink, vermelho, coral. O toque final. No clima seco e de temperaturas muito altas das ilhas gregas, nessa época do ano pouco verde se salva. Então ver as bouganvilles é um presente muito lindo.
O cheiro do mar é de mar, não sei se me entendem. Limpo, fresco, sem interferências. Ele só é superado pelo forte aroma dos figos que eu só via já secos, no chão. Pela primeira vez os encontro verdes, nas árvores, e fico torcendo para que amadureçam em tempo para poder colher alguns pelo caminho até a praia.
Alguns sons também são muito “a cara” desse lugar: cigarras eternas com um gogó poderoso, cabras logo cedo, corvos e sinos. Sábado e domingo, principalmente. Batem loucamente na igreja ortodoxa logo abaixo de casa. E o sino mais impressionante é um que toca assim, solto no dia, bem discreto e por poucas vezes, anunciando a morte de um habitante da ilha… A música grega também nos alcança em nossa casa pela sua posição geográfica. Me explicaram que tem algo a ver com a acústica de um anfiteatro, só sei que nesse momento estou ouvindo um cântico de algum ritual religioso, chegando alto e claro. Combina e completa a paisagem.
- O ARTESANATO GREGO
- Mostro hoje o artesanato grego. O artesanato brasileiro que eu trouxe para cá, já mostrei aqui. As fotos são de lojas que adoro visitar, perto de casa.
Juro. Não vi nenhuma vez. Aliás, nem arroz vi, muito menos com pedacinhos de cenoura, pimentão e passas. Em compensação, existem comidas aqui que são acontecimentos inesquecíveis.
A lula é macia. Incrível. Peixe que a gente escolhe na cozinha do restaurante. Tem polvo de tudo que é jeito e camarão de jeito nenhum (estranho, não?).
Aqui é o pais da feta, queijo de leite de ovelha, bem salgado e com a consistência de uma ricota firme para ser cortada em fatias. Ele é parte integrante e fundamental da famosa salada grega, feita com tomates, pepino, pimentão, cebola roxa, azeitonas pretas, alcaparras e orégano. Tudo generosamente regado com azeite de oliva. No final, a melhor parte: limpar o óleo que fica no fundo do prato com bons pedaços de pão.
Ingredientes como limão, azeite de oliva, orégano e alcaparras (aqui usadas com suas folhas) são usados sem parcimônia.
Nosso campeão de audiência é o souvláki, algo bem leve que se compõe de carne de porco ou frango, dentro de um pão pita convivendo com zaztíki, cebola crua e tomate. Louco de bom. O zaztíki é feito com pepino ralado, alho e muito iogurte. Acompanha praticamente tudo. No Café del Mar, o bar preferido, também comemos essa salada de frutas com iogurte e mel. Divina.
Nossa rotina alimentar nesses dias de férias segue a tradição grega, regida pelos efeitos do sol – vá para a praia o quanto antes e só me volte de lá no fim do dia, quando o calor tiver baixado. Em casa, no pátio onde o sol ainda não atinge, café da manhã composto de iogurte (o melhor do mundo, denso, acidez na medida), frutas (pêssegos e os figos que começam a amadurecer) e mel (fabuloso). E um pão pelo qual me apaixonei perdidamente, integral com passas e coberto de linhaça, aveia e o que penso ser semente de girassol. Família grande, ritmos diversos, café da manhã longo… Em seguida, atividades domésticas variadas como orçamento do jardineiro, marceneiro, supermercado e arrumações.
Chega a hora de ir para a praia. Almoço te-vira-meu-nego: ou sanduíches que fazemos em casa ou salada grega e suco de laranja ao som de lounge music no bar que fica no alto do morro em Vromolithos, a praia eleita pela família. Sombra. Livro. I-Pod. Soninho. Sudoku. Banho de mar. Casa (caminhando, sobe e desce ladeira, ainda calor, nem tudo são flores).
No jantar, ou comida feita em casa com influências gregas, italianas e brasileiras ou um restaurantinho. O cunhado Fabrízio, que escreve e faz marcenaria, é também excelente pizzaiolo e fez a gente se sentir na Itália com uma pizza deliciosa, ingredientes perfeitos, inclusive meus queridos figos. Saladinha de bresaola e rúcula para acompanhar. Você pode ver a produção dessa pizza em detalhes no blog da Marina.
Outro dia, jantamos na casa vizinha, do Zio Nichola. Misturas étnicas representadas por Strudel de Ameixa Vermelha, fatias de laranja com canela e passas, doces gregos e… caipirinha! Achei todos os ingredientes e trouxe um pouco de Brasil para essas terras. Com vodka, que me perdoem os puristas, mas querer achar cachaça aqui …
Delícia são os pimentões recheados. Não há como reproduzí-los no Brasil: não existem esses pimentões verde-clarinhos, o bacon não é nem parecido e a feta… Nem procurando com vela acesa.
E não podia deixar de mostrar o famoso Moussaká, beringelas, carne moída e molho branco. Forno neles e Grécia em estado puro. E as beringelas secando ao sol antes de ir para a panela…
Aí vêm os doces. Não são muito a minha praia, mas quem aprecia confeitarias aqui ficaria muito feliz. São muitas, para uma ilha tão pequena, e a gente anda e vai sentindo o cheiro dos doces muito doces no ar. Galatobúrico, gourabiédes, bugazza, baklavá… Mas as que gosto mesmo são a Milópita, torta de maçã e a Patsavourópita, que significa Torta de Pano de Chão. Acho. Espero correções do Theo, meu professor de grego.
Ontem era minha vez de cozinhar e inventei uma coisa que ficou bem gostosa.
Polpette com molho de tomate e batatas assadas.
Para as polpette (almôndegas):
1 kg carne moída
1 cebola grande cortada em quadradinhos
1 pão francês adormecido amolecido em leite
1 ovo + sal e pimenta preta
Coloque a carne moída em uma tigela. Refogue a cebola em pouco óleo até ficar transparente. Esprema o pão para retirar o excesso de leite e junte à carne. Adicione também a cebola refogada. À parte, coloque o ovo em um recipiente, coloque sal e pimenta preta suficientes para temperar a carne. Misture e adicione à carne. Amasse bem forme bolinhos de carne do tamanho que desejar. Eu fiz do tamanho de um punho fechado pequeno. Disponha as polpette em uma forma grande.
Descasque e corte em rodelas finas 6 batatas grandes. Tempera-as com limão, sal e azeite de oliva (e orégano, se dele gostar). Coloque as batatas na forma cobrindo os espaços em torno das almôndegas. Faça um molho de toamte com tomates sem pele cortados em pedaços grandes e refogados com cebola e alho. Se quiser, pode aumentar com algum purê de tomate, tudo temperado com sal e uma boa pitada de açúcar. Jogue o molho de tomate por cima de tudo e forno. Com as deliciosas batatas daqui e em um forno elétrico, levou 50 minutos para ficar pronto.
Bela Grécia.
GRÉCIA – EFEITOS COLATERAIS
Vir para a Grécia produz alguns efeitos colaterais, não todos positivos, mas sem dúvida poderosos, marcas de um tempo passado nesse lugar formidável.
1. O olhar para o mar. Vamos explicar assim: imagine uma piscina gigante e bem cuidada – aquela água transparente e azul… O mar aqui é assim, transparente, de um azul estupendo que passeia entre o profundo e o esverdeado, simplesmente fresco, limpo e com um aroma de mar. Só de mar, dá para entender? Aliás, até os peixes que compramos e limpamos (eu falei que tinha efeitos negativos – pela primeira vez tive que estripar algo que ia comer) têm um ar saudável. Será a famosa dieta mediterrânea?
2. Secura máxima. O ar aqui é seco. Mega seco, como diria minha filha Marina. E tem um vento que às vezes é tão forte que dá vontade de andar segurando uma âncora. Resultado bem-vindo: a gente nunca se sente pegajosa. Efeito negativo: cabelo palha e pele craquelada. Da sola do pé nem vou falar…
3. A dieta mediterrânea pode ser mundialmente famosa por ser saudável e indicada em dietas, mas vamos ser honestos: o povo aqui fica em forma não só por causa do que come. Caminhando feito camelos, sob um sol escaldante, ladeiras sem fim (nada de calçadões, minha gente) e movido a salada grega, não há quilos que resistam (assim espero. Oremos).
4. Que bom, desacostumamos. Para nós brasileiros ficou difícil conviver com gente fumando em qualquer lugar. E aqui eles fumam em qualquer lugar.
5. Os mosquitos aqui são fortes, saudáveis e inflamáveis. Não consegui ver nenhum até agora, mas tenho provas por todo o corpo de que eles me viram, e como.
6. Crianças européias. Elas passam o dia inteiro na praia, não se torram, não reclamam se não tem onda, comem comidinhas saudáveis e nutritivas trazidas de casa em potes, ficam na sombra quando orientadas e caminham 20 minutos para ir e 20 minutos para voltar da praia. Tranquilos. Tenho dito.
7. Como na Itália, é triste descobrir que, mesmo tendo teoricamente todos os ingredientes básicos no Brasil para fazer uma salada grega (tomates, pepinos, pimentões, cebola, azeitona preta, queijo feta), simplesmente não fica igual. Culpo os tomates. Aqui são divinos e no Brasil tendem ao gosto de nada… Fazer um Moussaká com nossas beringelas também é meio frustrante. Conhecer os originais tem suas desvantagens.
8. Reciclagem de lixo: na ilha, o único lixo reciclável separado são as garrafas de água. Ponto. O resto, tudo misturado, me deu o maior nervoso. E em uma ilha pequena, o que faz pensar para onde vai tudo isso. E faz valorizar ainda mais a separação que fazemos no Brasil, em especial em Curitiba. Mas ponto para eles porque usam muita energia solar e eólica.
8. The Weather Channel. Inútil aqui. Não há a menor dúvida sobre como será o dia seguinte: sol, nenhuma nuvem no céu, chuva nem em sonhos. E calor. A única coisa que vai variar é o vento: pouco, muito ou nenhum. Essa certeza de bom tempo é um bálsamo para quem passa férias de verão em Santa Catarina ou no Paraná e vê seus dias na praia se escoando pelo ralo com chuvas sem fim.
9. Nunca mais serás inteiro. Chegadas e partidas. Famílias espalhadas. Saudades do que não está perto. Essa temporada foi particularmente complexa pela grande vontade de estar perto de uma das pessoas mais importantes da minha vida. Mas sabia que a família estava unida cuidando de quem precisava. Estou feliz em voltar para casa. Com pena de ir embora. Complicado? Nunca mais serás inteiro.
Para ver um olhar diferente sobre a mesma ilha e tempo passado lá, entre no blog da minha filha Marina, o Confissões de uma Doceira Amadora. Delícias e divertimento em Leros.
QUE BOM QUE VOLTAR É BOM
Viajar é uma maravilha! Existe um consenso sobre isso, certo?
Minha filha, desde pequena, adora contagens regressivas. Ela cresceu e continua marcando quantos dias faltam para aniversários, para sua ida a Nova York, para essa viagem a Leros. À medida que o evento se aproxima, ela transforma a contagem para número de horas…
Eu, mesmo gostando muito de viajar, começo minhas contagens regressivas quando saio de casa com as malas na mão: quantos dias faltam para voltar?
Por melhor que seja o lugar (e Leros É o melhor lugar), por mais linda que seja a paisagem, mais formidável o hotel, eu tenho vontade de voltar para casa. Não chega a atrapalhar a viagem, curto tudo, aproveito cada passeio e comida, mas dentro de mim, conto: 17, 16…
Maluquice? Bairrismo? Pérolas aos porcos? Pode ser. Mas para mim só quer dizer que é muito bom ir e é maravilhoso voltar.
LEROS – GRÉCIA
2012
Anil
Sou do sul do Brasil, aquele trecho do país que insiste em acreditar que janeiro faz parte do verão. Mas a verdade é que nessa época, quando a maioria de nós gostaria de apreciar uma praia, nunca se sabe o que o clima vai aprontar. Tempestades, enchentes, nuvens em quantidades industriais e… sol vira artigo de luxo. Aí lá está você, na sua casa de praia e, todas as manhãs abre um olho só e espia para ver a cor do céu… Em geral cinza, uma alegria.
Muito bem. No Mediterrâneo, onde acontece de estar a Grécia e suas inúmeras ilhas, uma certeza reina nos meses de verão: tem sol, céu azul e ventos que fazem tudo ficar agradável. Nuvem, eles esquecem o que é. Chuva, portanto, nem pensar. Sempre (espere, vou repetir) sempre os dias são lindos. E azuis. Um céu de um azul infinito que encosta num mar de azuis mil, um mais formidável que outro. Inevitável fotografar, impossível capturar aqueles tons e transparência. Mas vale a tentativa de compartilhar.
Dizem que o azul descansa. Então sente e relaxe.
Camisetas e gatos na Grécia
Camisetas pintadas com cara de mar. Uma sereia para a sobrinha romana e um gato para Ielena, que fez aniversário em Leros. Improvisei com o moinho típico da ilha, ficou médio mas ela adorou. E ficaram camisetas em branco por lá, aguardando a próxima visita.
Baseado nesse moinho:
E já que começamos a falar dos gatos (milhares) da Grécia, aqui vão imagens de alguns.
Tinha uma pedra no caminho
Leros tem uma característica que no começo me incomodou: praias com pedras, ao invés de areia. Não dá para fazer buraco e nem castelo; precisa entrar na água com chinelo no pé, porque sem, dói; caminhadas na beira-mar, nem pensar, só se quiser alguns tornozelos torcidos. Mas a gente acaba achando é ótimo: entra e sai da água sem farofar o pé, que sai limpinho e charmoso nas havaianas (me permita abrir um parêntese aqui – ver uma loja vendendo Havaianas nessa ilhazinha grega, esquecida no meio do Dodecaneso, é uma prova máxima da globalização…); a gente senta, levanta, deixa a sacola de praia no chão e… chega em casa sem um grão de areia em nenhum pedacinho do corpo. Tem seu glamour, concorda?
Portanto, em Leros tem pedras. Muitas. E dá vontade de inventar de tudo com elas. Pintamos pedras personalizadas para segurar os guardanapos nos momentos em que o já mencionado furioso vento acontece. Aí aconteceu de eu encontrar entre os livros doados para a Freguesia do Livro, um que fez uma viagem enorme: foi parar na Grécia, cheio de ideias para pintar mais pedrinhas.
E para a próxima vez, fica essa ideia, do Inspire:
Madeira na Grécia
Na nossa casa em Leros existe um livro que convida nossos hóspedes a deixar algo escrito contando o que a casa trouxe para eles e a marca que deixaram durante sua estadia. Junior pintou muros e Ângela pintou uma cadeira. Tudo mostrado aqui.
Mas o maior produtor de coisas interessantes é meu cunhado Fabrizio, um escritor e marceneiro aprisionados em um entediante emprego administrativo em Roma. Ele escreve fábulas para crianças e sempre que sobra um tempinho, cria peças com madeira. Em Leros aproveita tudo o que encontra pela frente, pedaços de madeira, as janelas que foram trocadas na casa, móveis abandonados pela rua. Como madeira é comigo mesmo, nos divertimos nas nossas férias.
E para quem ficou interessado nos versos de Fabrizio no livros de visitas, aqui vai a tradução (livre, bem livre):
Bem-vindo a essa casa,
Você que de tão longe vem,
Agora tem uma missão,
Pode responder como lhe convêm.
Diga-me quem você é,
O que faz e de onde vem,
A tua história muito nos agrada
E meu coração encherá também.
Sou uma casa antiga e distante,
Que se enriquece com todos vós.
Diga-me o que trazes do teu lar,
Sejam pensamentos ou “bois”.
E assim, antes do seu retorno,
Diga-me o que me deixou.
A tua marca ficará comigo para sempre,
mesmo se apenas uma pedra você pintou.
Fabrizio tem um blog onde mostra todo o processo da construção do armário: www.fabbroscrivano.blogspot.com
Minha gastronomia grega
Como já comentei um dia desses, resisto a mudanças. Quando volto em um restaurante, tendo a pedir sempre a mesma comida. Na Grécia não poderia ser diferente: adoro sempre as mesmas coisas. Mas, recomendo: está com fome? Então deixa esse post para depois, porque vai ser uma judiação…
A dupla campeã dos almoços: lula e salada grega. Para variar, uma salada só de tomates, mas sempre com o queijo feta.
Os figos, esse ano, simplesmente colaboraram. No jardim da casa tem uma figueira, onde todas as manhãs colhíamos as frutas para o café. Não é o máximo? São doces, pesados, deliciosos.
Uma fruta que tem tudo a ver com a Grécia, porque se encontra bastante, tem árvores dela por toda parte e está muito presente no artesanato grego por trazer sorte: romã.
Jantar em família na casa ao lado. Uma mesa linda, antipastos greco-italianos, bruschette e tzatziki (receitas no final) e uma caipirinha brasileira para coroar.
Os preferidos na praia: suvláki, um espetinho de carne de porco ou frango, dentro de um pão pita com tzatziki, tomate, cebola crua e… batata frita. Essa eu pulo. E salada de frutas com o esplêndido iogurte grego e mel.
Tzatziki
Ingredientes:
1 xícara de iogurte denso
1 pepino médio
2 dentes de alho espremidos
1 colher de sopa de óleo de oliva
Sal, pimenta preta e vinagre a gosto
Ralar grosseiramente o pepino sem casca e colocar um pouco de sal. Deixar em uma peneira, com peso em cima, para sair a água que o pepino gera. Adicione os outros ingredientes e misture. Sirva com torradas ou pão sírio torradinho.
Bruschette
Corte tomates sem pele e sem sementes em cubinhos pequenos. Coloque numa tigela e tempere com azeite de oliva, sal, pimenta preta moída na hora, alho em lâminas e folhas de manjericão ao final.
Torre fatias de pão italiano em forna até ficarem firmes e douradas. Servir as fatias com uma porção do tomate por cima.
Farofa grega
O termo farofeiro vem dos piqueniques regados a frango com farofa que acontecem nas praias do Brasil. Pois venho por meio desta lhes comunicar que na Grécia também rola uma farofa.
Mas também, quem tem vontade de sair dessas praias…? O negócio é ficar por ali mesmo. Almoço, café da tarde, soneca, sem arredar o pé.
Você sabe que esteve na Grécia se…
Em um pequeno período de tempo você repetiu mais de 1000 vezes: “Que azul! Que azul”!!
Voltou com os pés em petição de miséria. Secos, secos, secos.
E o cabelo transformado em algo indescritível. Ao menos você descobre porque as gregas conseguem fazer coques lindos com seus cabelos – eles são impossíveis de pentear.
Voltou com panturrilhas da pernas saradíssimas de tanto subir e descer ladeiras.
Ou descobriu que a vida em cima de uma Vespa é tudo de bom.
Não sabe mais como vai viver sem lula à dorée.
Descobriu que corvos podem ser muito interessantes.
Se sentiu no meio de uma panela de pressão pelo enorme barulho das cigarras cantando.
* todas as imagens foram retiradas do Pinterest e We Heart It.
O sol se põe…
Comecei essa série grega mostrando o infinito azul da Grécia. Encerro com o dourado do pôr do sol, um espetáculo diário que só é superado em grandeza pelo céu estrelado que sempre vem em seguida.
Acompanhe o apagar das luzes e, comigo, torça, para que possamos viver tudo isso outra vez. Ou melhor, pense que o sol se põe todos os dias perto de você. Procure uma brecha, estique o olhar e valorize esse momento.
Você também pode gostar de…
Menina! Que lindeza! Nunca fui para a Grécia, mas tenho uma vontade imensa de conhecer. Realmente, as imagens são de encher os olhos. Tudo muito belo. Li outro dia que são um povo muito sadio por causa do áleo de oliva que consomem em quantidades exorbitantes.
Que viagem inesquecível, amiga! Sim, que bom que voltar é bom. Sempre penso nisso! Beijo
Esqueci de dizer: você escreve muito bem. Adorei a forma como se expressou. Foi uma leitura deliciosa. Parabéns!
Um abraço. Um carinho!
Ila
Menina, que delícia de post. Me fez lembrar de quando, muitos anos atrás, estive na Grécia e fiz um passeio por algumas dessas ilhas. A arquitetura tão encantadora, o mar de uma cor única, os camarões que comemos nas ruelas simpáticas, e o artesanato que, é claro, eu trouxe. Você me fez sentir vontade de fazer as malas e ir passear, mesmo querendo ficar nesse meu paraíso.
Beijo grande e obrigada pelo presente.
Cris Turek
Jô, você é demais!!! Sempre adoro ler o que você escreve. Tem sentimento, tem leveza, verdade e candura! E quanto a sorte… bem, o que dizer! Graças a Deus somos do time das sortudas!!! rsrsrsr Beijin, Tati
[…] Grécia […]
Alo Jo.
Adorei,paisagens e texto,me transportaram à LERO.Quando penso na Grécia,lembro do azul do Mar,que conheço das gravuras.È mesmo azul.As receitas maravilhosas.Vou experimentar,apesar dos tomates nacionais com agrotóxicos,meu bizavô italiano comia todos os dias,plantados por ele na jardineira da casa,em São Paulo,Não esqueço,tinha um gosto diferente.Minha mãe ainda não viu seu blogue,vai adorar.
Bjos
Eliana
Que sonho! Adorei e provar um pouquinho da Grécia através de suas palavras. Ótima leitura! Beijos
Jô, não nos conhecemos, foi sugestão de uma amiga (Tati) ler seu blog. A-D-O-R-E-I !!!!! Estive na Grécia nos anos 90, AMEI, conheci Atenas e Mikonos.
Gostei muito de tudo o que você mostrou – que sorte você tem!!! Está proibido falar mal de qualquer sogra de agora em diante; afinal elas podem nos proporcionar muitas coisas boas; a começar por nossos amados maridos.
Acabei de voltar dos EUA, Denver, foi ótimo; assim como é ótimo voltar para casa.
Um grande abraço
Elizabeth
Elizabeth,
Ótima a teoria sobre sogras! Penso como você. Que bom que gostou do que leu. Volte sempre!
Jô
[…] Grécia […]
Li de um só gole…amei. Gosto muito de viajar, mas prefiro voltar. Nada como nosso ninho com nosso cheirinho. Os vídeos são incríveis e já deixei carregado para assistir mais tarde com o maridão. Por aqui a vida: começou cor-de-rosa e continua navegando em águas claras, Graças a Deus. Íamos para a Grécia em julho passado, desistimos por causa dos problemas no país. Mas ainda iremos conhecer, certamente iremos. Grécia e Turquia são sonhos meus. Amanhã volto para ler mais. Beijocas!
[…] Grécia […]
[…] falando em comida, por lá come-se bem! começando pelo iogurte que a Jô do Arte Amiga, já tinha comentado que era uma delícia e, eu estava doida para experimentar. Agora eu […]
Jô do céu!!! Preciso sair e já estou viajando por aqui há quase uma hora!!! Estes post sobre a Grécia são até covardia comigo…rsss. Este ano fiz uma viagem e a ‘Grécia por pouco não foi meu destino… acabei indo para a Itália e Holanda e também adorei tudo que vi. Mas depois destes posts o comichão começou de novo…rssss. Lindas imagens e lindas palavras… Grécia, em breve estarei por aí!!! Grande abraço e parabéns!!
http://www.arquitrecos.com
[…] Grécia […]
AMEI SEU BLOG E AMEI MAIS AINDA O ARTESANATO GREGO. CHEGUEI AQUI PELO BLOG DA MARION.
TB ESTOU LÁ: XICRINHA GONZAGA.
BEIJÃO.
Adorei tudo ! Eu, que não gosto de viajar!…. Mas , pelas suas narrativas, fiquei tentada…E do que mais gostei foi de seu modo de escrever, grande escritora!
Parabéns, mil vezes parabéns.
Minha admiração por sua leveza e jeito de encarar o mundo, ou a vida.!
Se quiser dar uma espiada em meu blog, é uma viagem ao passado…
Adorei sua narrativa. Estive em Leros e adorei cada momento. Pretendo voltar em breve.
[…] Grécia […]
[…] Grécia […]
[…] Grécia […]
[…] Grécia […]
Nossa Jô, que gostoso ler tudo isto., estive em 3 ilhas gregas e revivi tudo novamente. As saladas !!!! e realmente o visual do azul das águas . inesquecivel.!!!! Concordo com vc adoro ir mas tb adoro voltar.moro no Rio de Janeiro. Sua maneira de descrever é muito legal. Entrei no seu blog rapidamente para ver sobre vinicula em santiago e aí passei pela Grecia novamente. bj
Rosangela
Nunca fui a Grecia, mas sou apaixonada por ela. Depois do que vi e aprendi aqui,tenho certeza que tudo o já tinha visto, foi nada ,
com o que vcs mostram. Obrigada. Maia Angioletti
[…] Grécia […]
[…] Grécia […]
adorei seu post! lindas fotos e um texto muito agradável! parabéns!
aproveitando a visita, gostaria de saber se vc teria como falar sobre o homem grego no amor, no relacionamento com as mulheres. conheci um grego, de atenas, em um site e ele é perfeito. amoroso demais, educado demais, td de bom! só tem um problema: ele disse que está apaixonado! muito pouco tempo já que nos conhecemos há pouco mais de 1 mês. não promete nada, mas se diz encantado por mim. sou uma arquiteta carioca, 48 anos, aquariana, desconfiada por natureza. enquanto teclamos sem câmera, penso as piores coisas: que é um aproveitador, golpista, etc…….mas qdo o vejo na câmera, td passa como num passe de mágica. ele é encantador, tem um olhar de uma pessoa boa, como se eu pudesse ver sua áurea e olha, de tirar o fôlego….. já tentei buscar informações sobre a característica dos homens gregos e, simplesmente, a internet só fala da grécia antiga. putz! please, vc teria alguma coisa a falar sobre esses maravilhosos deuses gregos? rs bjoo
efeito colateral de ler esse blog: não sei como vou passar mais um dia sem ir à Grécia
Grécia… sonho azul! Vou continuar sonhando!!!
Boa noite estou fascinada aqui, com tanta coisa linda!
Ameiiiiiii!!!!!!!!!!!!!!!
[…] Grécia […]
[…] Grécia […]
[…] Grécia […]
[…] Grécia […]
[…] Grécia […]
[…] Grécia […]