
Louça que herdei de minha avó.
Flor é pura mágica! A variedade, a beleza, as cores, as formas… Minha avó Wanda era uma apaixonada. Tinha uma estufa, preservava flores trazidas da Alemanha em bulbos escondidos na mala há décadas atrás, se aventurava nos enxertos, conseguia modificar suas cores. Na frente do prédio em que morava em um bairro central de Curitiba, cuidava do seu jardim florido e ali fazia amigos na conversa matinal. Espalhou muitas sementes, mudas e conselhos florais pelo Alto da XV. Visitá-la significava invariavelmente um passeio pelas espécies brotando, uma explicação sobre os cuidados que exigiam, uma tristeza por um vaso que não havia resistido a algum piolho maligno. Violetas e orquídeas eram as preferidas, estrelas em destaque de seus amores. As flores a acompanharam por seus 94 anos de vida e até o final eram o presente mais bem-vindo. E me fazem acreditar que todos precisamos de algo que nos motive, impulsione, um objetivo, um hobby, uma coleção, uma paixão. No caso da minha avó, eram as flores. E no seu? O que te motiva?
Seguindo esse pensamento, deixo aqui uma crônica da Martha Medeiros que faz refletir. E reflexão combina com começo de estação. Leia e pense no assunto. Se quiser compartilhar com a gente quem/o que você é, comente.
A gente é o que a gente gosta. A gente é nossa comida preferida, os filmes que a gente curte, os amigos que escolhemos, as roupas que a gente veste, a estação do ano preferida, nosso esporte, as cidades que nos encantam. Você não está fazendo nada agora? Eu idem. Vamos listar quem a gente é: você daí e eu daqui.
Eu sou outono, disparado. E ligeiramente primavera. Estações transitórias.
Sou Woody Allen. Sou Lenny Kravitz. Sou Marilia Gabriela. Sou Nelson Motta. Sou Nick Hornby. Sou Ivan Lessa. Sou Saramago.
Sou pães, queijos e vinhos, os três alimentos que eu levaria para uma ilha deserta, mas não sou ilha deserta: sou metrópole.
Sou bala azedinha. Sou coca-cola. Sou salada caprese. Sou camarão à baiana. Sou filé com fritas. Sou morango com sorvete de creme. Sou linguado com molho de limão. Sou cachorro-quente só com mostarda e queijo ralado. Do churrasco, sou o pão com alho.
Sou livros. Discos. Dicionários. Sou guias de viagem. Revistas. Sou mapas. Sou Internet. Já fui muito tevê, hoje só um pouco GNT. Rádio. Rock. Lounge. Cinema. Cinema. Cinema. Teatro.
Sou azul. Sou colorada. Sou cabelo liso. Sou jeans. Sou balaio de saldos. Sou ventilador de teto. Sou avião. Sou jeep. Sou bicicleta. Sou à pé.
Você está fazendo sua lista? Tô esperando.
Sou tapetes e panos. Sou abajur. Sou banho tinindo. Hidratantes. Não sou musculação, mas finjo que sou três vezes por semana. Sou mar. Não sou areia. Sou Londres. Rio. Porto Alegre.
Sou mais cama que mesa, mais dia que noite, mais flor que fruta, mais salgado que doce, mais música que silêncio, mais pizza que banquete, mais champanhe que caipirinha. Sou esmalte fraquinho. Sou cara lavada. Sou Gisele. Sou delírio. Sou eu mesma.
Agora é sua vez.
Martha Medeiros

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