
“Quantas vezes já falei? Casca de banana é lixo or-gâ-ni-co! Não vai na lata dos recicláveis”!
A desilusão doméstica ao menos me consola: se não consigo conscientizar nem os que vivem comigo na mesma casa há mais de 20 anos, como posso pretender que as pessoas que abordo impulsivamente nas minhas lidas cotidianas, entendam?
Tenho feito certos papéis… Micos, diriam meus filhos. Saio da panificadora equilibrando torres de pacote de pão francês, copo de requeijão, bandejas de frios e bolo de cenoura. Poucas probabilidades de que aterrisem em ordem no assento do carro, onde vão se misturar aos DVDs que peguei na locadora, aos sapatos que busquei do conserto e à caixa do analgésico que vai salvar minha noite. Tudo rigorosamente sem sacola, depois da repetida e repetida conversa:
– Pergunta se eu quero.
– O que, minha senhora?
– Me pergunta se preciso dessa sacola enorme para levar essa minúscula caixinha de comprimidos.
– É mesmo…
Engato o discursinho meio desgastado dos plásticos que vão acabar na boca das focas da Groenlândia e vejo que consegui trazer uma novidade para o rapaz. Saio orgulhosa da farmácia, sentindo que conscientizei um vizinho dessa minha casa chamada planeta.
Semana seguinte, a dor de cabeça volta, retorno à farmácia, procuro meu vendedor-conscientizado e… Pimba! Sacola outra vez!
Aí chega a hora de pensar: vale a pena ser eco-chata? Ficar conhecida e ser lembrada para todo o sempre como aquela que acha o fim do mundo o clube não separar o lixo e que acaba sugerindo um latão de recicláveis no vestiário? Que doa tudo que não usa mais, desapega geral? A que não incentiva o acúmulo e está sempre incomodando as pessoas para doarem livros e mais livros? A que insiste em recuperar, consertar, fazer ressucitação boca-a-boca em aparelhos domésticos e eletrônicos por não querer aumentar ainda mais a montanha mundial de descartes de vitrolas, televisões, toca-fitas, celulares, máquinas de escrever, Gordinis, DKVs e todas aquelas coisas projetadas para durar pouco?
Que eu tenho coragem, isso tenho. Na festa de aniversário da minha irmã, na nossa chácara, acontecia um belo churrasco. Copos descartáveis, latinhas de cerveja, garrafas pet, asinhas de frango e restos de maionese de batata atirados em vala comum, um formidável latão de lixo, ao alcance de todos. Até que me segurei… Mas não por muito tempo. Consegui outro latão que coloquei ao lado do primeiro e anunciei: “Pessoal, este é para os recicláveis!”. Um guaxinim teria despertado menos olhares perplexos, inclusive o da minha irmã, onde estava escrito: “Lá vem aquela chatice outra vez.” Em 10 minutos, tínhamos dois latões- valas comuns onde tudo coabitava. Enfiei minha viola no saco (de pano) e desisti.
Aliás, sacolas de pano são outro assunto delicado. Demora para acostumar, elas sempre estão: a) em casa quando você chega no mercado; b) no carro, quando você está passando as compras no caixa. Agora que finalmente me acostumei, euzinha, sozinha, economizo uma média de 40 sacolas plásticas (aquelas das focas da Groenlândia, lembra?) por semana, ao carregar minhas compras de supermercado e afins em sacolas de pano das mais diversas procedências. Então o que explica o fato de hoje, uma segunda-feira, dia oficial da reposição do estoque doméstico, eu ser o único ser usando estas simpáticas sacolas retornáveis no super-mercado inteiro? Será que as pessoas não sabem? Será que esquecem? Será que acham que não fica bem? O negócio seria entrar na moda. Se fosse moda, quem sabe?
Uma coisa aprendi: posso escolher como vou ser lembrada quando não estiver mais por aqui. Sei que já me acham assim, assim, pelas minhas manias esquisitas de voluntariado e comportamentos ecológicos, essa crença absurda de que eu posso fazer uma diferença. Mas, mesmo assim, decidi. Prefiro que me citem como alguém que travava suas pequenas batalhas diárias em nome de um ambiente mais limpo e de um futuro sustentável, do que aquela que cozinhava o melhor camarão na moranga do bairro. A receita do camarão eu posso deixar para a posteridade. Gente que vai cuidar melhor do ambiente, também.

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