Faço exercício físico no clube. Já passei pela hidroginástica, escapo o quanto posso da musculação, me acabo na esteira, danço jazz e me estico no pilates. Em todas as modalidades, roupinhas adequadas que prezam o conforto mais do que a estética. Cara lavada e geralmente vermelha e suada. Cabelo mais arrepiado que preso em coques e rabos de cavalo. Mas quem está ligando? Fora algumas companheiras da área poliesportiva que prezam o visual até nesses momentos, as mulheres todas estão ali para suar a camisa mesmo.
No mesmo clube, no entanto, acontecem as atividades sociais: encontros culturais, festas e almoços nos restaurantes. É nesses momentos que me delicio em observar a capacidade de transformação das mulheres. Os homens, cá entre nós, não chegam a impressionar se estão com a camiseta da nike ou a roupa com que trabalham. Vestir uma camisa não chega a ser ato transformista. Mas as mulheres… uau! Quanta diferença. Temos a possibilidade de virarmos outra pessoa.
O corretivo, a maquiagem, escovas e chapinhas, a roupa, um salto, um lenço no pescoço, jóias, cores, pó de pirlimpimpim. Parece mesmo mágica, a gente tem a capacidade de virar outra coisa. De lagarta a borboleta, um dom que deve ser exercido com sabedoria. Estar sempre linda e espigada tira essa graça. É bom viver o comum para poder valorizar o especial.
Transformações, em geral, me fascinam. Sonho em encontrar uma casa muito velha, muito estragada, e reformá-la, nos moldes do Sob o Sol da Toscana. Me atraem as Cinderelas, as meninas pobres que viram grandes profissionais, as cozinhas caóticas pós-culinária que ficam brilhando, a sensação do banho depois de um dia muito quente. O cabelo que cresce, a dor que passa, a vontade que volta, o cansaço que vai embora. O trigo e a água que viram pão, o pinhão que vira pinheiro, o ignorante que se torna sábio, a noite que vira manhã que vira noite. Me agrada apreciar essas mutações que, de tanto que acontecem, parecem banais. Não são.
Imagem inicial: Audrey Hepburn em Cinderela em Paris. Recomendo. Uma linda transformação.
Borboletas: Pinterest
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