Quem me acompanha sabe que aprecio coleções, que valorizo memórias, que sou a favor de guardar o que compõe nossa história. Mas como também acredito muito em consumo consciente, acervo de livros passou a ser algo que tendo a questionar.
Sempre fui muito ciumenta com meus livros. Escrevia meu nome na primeira página, mês e ano em que os tinha ganho ou comprado, algum comentário sobre o que tinha achado deles. Carimbo ex-libris, número do meu telefone na frente e na última página, caso o emprestador chegasse ao final da história esquecendo que eu esperava a devolução, tudo anotado em uma ficha, tipo bibliotecária zelosa e guardadora. Olhava a minha estante com orgulho, livros que representavam meu modo de ser de acordo com a idade: os filosóficos da adolescência, os romances de quando os filhos eram pequenos, os suspenses que hoje me mantêm acordada.
Eu sei exatamente o momento em que tudo isso se quebrou: um dia, emprestando um livro de uma amiga, abri na primeira página e observei que ela tinha (oh, céus!) esquecido de colocar seu nome ali. Ao que me respondeu simplesmente: “não coloco nome nos livros. Eles não precisam ser só meus, devem passear por aí”. O famoso clic, sabem como é? Desde então tenho praticado o desapego.
O primeiro movimento foi eliminar a ficha de empréstimo. Quer devolver, devolva. Se não, tudo bem também. Em seguida percebi que tirar livros de minha estante (que não é um coração de mãe, portanto tem seus limites de espaço), abre lugar para novos. Para o desejo de novas leituras. E permite que os livros sejam reutilizados, usados por outras pessoas. E me ajuda a manter uma certa ordem, que é impossível quando temos demais.
Porque exatamente guardamos tantos livros? Para saber o que já lemos? Movidos pelo “quem sabe um dia vou querer reler”? Para parecermos cultos e intelectualizados? Não se ofenda, você que tem paredes cobertas por volumes sem fim, livros amados aos quais se apegou irremediavelmente. É só um outro jeito de ver isso, de refletir se os livros lidos não estariam sendo melhor utilizados se abríssemos nossas gaiolas culturais e os deixássemos voar.
Nosso verdadeiro acervo já está dentro de nós, dentro de nossas cabeças e lembranças. Os livros que lemos já deixaram suas marcas e isso sim é biblioteca – aquilo que guardamos de cada história lida. Há alguns anos anoto os livros que leio em um caderninho. Sinto não ter começado há mais tempo, jovem ainda, quando iniciei minhas tantas leituras. Esse teria sido o meu acervo, o lugar para guardar meus livros lidos. Os próprios, livros materiais, ficam livres para andar por aí.
É claro que existem os mais amados, quem os tira daqui? E tem aqueles com que alimento os leitores que ajudei a constituir, porteiro, secretária, ajudante doméstica. Então, um acervo rotativo se faz necessário. Mas, livros de ter por ter? Não quero mais. Adeus para eles. Que sejam bem-vindos na casa de outro alguém. Ou numa bibliotequinha informal, numa geladeira de padaria, em um banco de praça, na Freguesia do Livro…
Moral da história: alguns livros de seu acervo pessoal podem se transformar em parte de um acervo comunitário. Se também está repensando, lembre de nós. Recebemos e encaminhamos os livros que você já leu e quer que cheguem a outras mãos, a outros leitores. Tire da sua prateleira os livros que possam incentivar a leitura de pessoas que têm pouco acesso a eles. A Freguesia do Livro recebe e agradece. E espalha por aí! Temos uma página no Facebook que você pode curtir e ver todos os lugares onde já criamos pontos de leitura. Inspire-se.
www.facebook.com/freguesiadolivro
Solta a flor na correnteza
Longe, alguém desconhecido
faz um gesto distraído
e colhe a flor de surpresa.
(Helena Kolody)
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Jô, isso mesmo. Concordo plenamente com sua postagem e já faço isso há muito tempo. Percebi que os livros são mais duráveis que eu (rs…rs.) então vamos passá-los para frente. Os escritos não servem de decoração de ambientes e sim para abertura das mentes.
Grande abraço.
Manoel.
http://blogdoobvio.blogspot.com
Jô querida! com certeza depois deste texto vou olhar para “meu acervo” com outros olhos…valeu bjs
Colecionamos livros como se fôssemos eternos.
Dei-me conta de que os livros iriam parar num sebo, ou numa lixeira, depois que eu me for. A partir daí, trocar livros ficou muito mais fácil.
E qdo eu quero reler algum que já troquei? Compro de novo. É bem mais fácil.
Bjs!
Já chegaram a me dizer “vou guardar esses livros para os meus netos”, sem pensar que talvez os netos simplesmente não darão a mínima para os assuntos que eram de interesse dos avós, ou para suas profissões, que os valores das gerações estão totalmente mudados, e muitas vezes não são fortalecidos. Sem contar o acesso às novas tecnologias que os netos sempre terão às mãos. E as pessoas que poderiam estar lendo esses livros hoje, antes de ficarem mofados, velhos, se desfazendo, e aproveitando aquele conhecimento? Conhecimento não precisa ficar única e exclusivamente em família, podemos compartilhar com tantos, ao mesmo tempo, tantas coisas boas. Vejo que muitas pessoas surpreendentemente têm mudado sua visão e seus conceitos e têm entendido que o que foi bom para elas em determinado período de suas vidas, pode ser muito bem utilizado por pessoas completamente distantes de suas realidades, e às vezes numa intensidade bem maior. Vamos continuar nossos projetos, vamos formar leitores, vamos colocar os livros nas mãos daqueles que precisam ler =)
Tem piada… é que hoje falo lá no Pé de livros e leitura!
Não podia estar mais de acordo contigo com a noção de acervo.
Acervo é aquilo com que ficamos depois de os termos lido.
E temos mesmo que lhes darmos uma utilidade comunitária.
Jo, admirável teu post, concordo plenamente, “Nosso verdadeiro acervo já está dentro de nós, dentro de nossas cabeças e lembranças. Os livros que lemos já deixaram suas marcas e isso sim é biblioteca “, vc colocou muito bem, vamos sim deixar voar nossos livros, para que povoem outras cabeças mais necessitadas. bjos, um bom dia!
Foi o que eu fiz quando doei para o Farol do Saber. A possibilidade de girarem por várias mãos é bem maior por lá.
Bjs.
Oi Jo!
Sabe eu sou leitora voraz, mas aprendi a arte do desapego mesmo que com os livros.
Leio, guardo um tempinho, releio alguns e faço o livro passear por ai. Já “esqueci” alguns em lugares…estacionamentos, ponto de ônibus, dentro do táxi.
Troco livros com amigas também.
É importante deixar os livros voarem e alcançarem novas cabeças:)
Um beijo
Ai Jo, pre ciso me acostumar com essa ideia!
moro em apartamento agora e meus armarios estao cheios de livros.
sou apaixonada por eles, mas alguns nem tanto.
prometo que vou pensar no assunto. Volto para falar mais.
beijos querida.
Oi Jô, muito interessante esta sua postagem, coincidentemente há poucos dias eu falava exatamente sobre isto com a minha irmã, pois ela não entendeu quando eu disse que estava doando grande parte dos meus livros de artes que acumulei por muitos anos. Amei a maneira que você abordou o assunto, eu acredito que a energia precisa circular, para o bem de todos e até para dar espaço para o novo!
Um super beijo
http://www.emporiocasadachiquinha.blogspot.com
Oi Jô,
Muito bacana o seu texto. Eu não compro muitos livros, tento sempre pegar na biblioteca ou baixar pela net. Compro apenas aqueles que eu tenho muita vontade de ter, de ler de novo e aqueles relacionados a minha área.
Dias desses fiz um faxinão e passei adiante tudo aquilo que não servia mais para mim. Se o livro está em boas condições e o assunto é bacana, por que não passar para quem pode ter interesse?
Bjusss
Oi Jô…agradeço a visita..teu blog é lindo e os trabalhos mais ainda…gostei do post de receitas também…bjssssssssssss
[…] leu recentemente que mais te agradou. Entre esses dois extremos garanto que existem muitos títulos descansando abandonados em suas […]
Olá Jô!
Que belo texto, eu já fui muito apegada com meu acervo, hoje ele é revidasado várias vezes e sempre encontro livros os quais não me tocam mais, não me emocionam e sendo assim seguem seu rumo, geralmente vão para a biblioteca pública, outras vezes são deixados em locais públicos e até mesmo para amigos que se interessam por eles, e assim abro espaço para o novo.
estrelinhas coloridas…
[…] revemos se tudo isso vai continuar. Bom descanso! Para pensar nas férias… Dou conta? Acervos – livros a voar Share this:CompartilharFacebookGostar disso:GostoSeja o primeiro a gostar disso […]
OI Jô tô de olho aqui!!!
Agora sim está tudo certo!
Boa quinta pra vc!!!
Beijos de luz
[…] Acervos – Deixe seu livro ir […]
Oiiii Jô!!!!
Muito bacana seu texto e me fez ter uma visão diferente sobre todo esse acervo que a gente quer carregar… Eu, por exemplo, penso nos meus filhos, hehe… Mas até lá tem tanta água pra rolar né???
Gostei da idéia de doar livros para bibliotecas comunitárias, vou me informar mais aqui nos eu blog…
E aqueles livros da fotinho Adeus China e O Silêncio da Chuva já li e tenho também, hehe, já lesse???
Beijãooo e boa semana flor!!!
[…] Acervos – Deixe seu livro ir […]
[…] guardamos. Calças jeans, perfumes, sapatos, canecas, pratos, panelas, travesseiros e… livros. É, eu sempre acabo voltando para […]
[…] Tenha um blog para divulgar a sua biblioteca. O importante é divulgar o projeto, para estimular o desapego aos livros, receber doações e colocar os livros à disposição da comunidade. Crie uma rede com blogs que […]
[…] Acervos […]
[…] Acervos […]
Preciso ler e reler esse post, Jô, e tentar assimilar, rsrsr. A ideia do caderninho é ótima! E ainda tô no nível de desprendimento zero: Livro conquistado na estante é tipo filho, que a gente não quer deixar ir. Obrigada por tocar no assunto e fazer pensar! Bjo!
[…] da Energia Literária girar? Encontrei essa semana um post muito incrível, do blog Arte Amiga: deixe o seu livro voar. A autora fala exatamente sobre esse (necessário) movimento de rotatividade dos livros. Afinal, […]
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[…] Acervos […]
[…] Acervos […]
[…] Acervos – deixe seu livro ir […]
[…] 1. o post de que mais me orgulho 2 . o post mais belo 3 . o mais útil 4. aquele cujo sucesso me surpreendeu 5. o mais popular 6. aquele que não teve o sucesso e atenção que merecia 7. o post mais controverso 8. a receita mais testada. Então, vamos lá. 1. O post de que mais me orgulho. Mais pela reação das pessoas, pois o que escrevi foi a expressão mais honesta de um sentimento. Meu tio querido me disse que leu em voz alta no Dia das Mães na reunião do Rotary… Me orgulhei, fazer o que? Ganhei da minha mãe 2 . O post mais belo. Todos os que fiz na Grécia. O lugar ajuda, vamos combinar. Os posts estão reunidos na página Grécia, mas o que mais gostei de fazer foi… Grécia – Efeitos Colaterais 3. O mais útil. Os posts em que falei da minha relação com os livros e da nossa Freguesia do Livro mobilizaram as pessoas e ali começou uma saudável dança de literatura por Curitiba. Livros em movimento, saindo de prateleiras esquecidas para estantes frescas e receptivas. E espero que esse seja apenas o começo. Perca um livro 4 . Aquele cujo sucesso me surpreendeu. Descobri que Snoopy e Mafalda ainda são muito queridos. Camisetas e quadrinhos E da série de artistas que visito, esse continua sendo visitadíssimo: Origamis de Gogó 5. O post mais popular. Será por causa da Nêga Maluca? Marcas 6. Aquele que não teve o sucesso e atenção que merecia. Não é um, são dois. Aliás, são muitos. Sempre fico com a impressão que alguns ficaram perdidos nesse mundo virtual. Amor de mãe, sabe como é… Mais Klimt Passarada Contratempos 7. O post mais controverso. Até eu fiquei meio desconfortável. Falo tanto de cuidar de livros, doar livros, aproveitar livros. Mas usar páginas de livros para decorar… nem todo mundo concordou. Vida nova ao livro velho. 8. A receita mais executada. Pelo menos essa foi a minha impressão, a receita que mais pessoas me contaram que fizeram em casa. Aliás, se você tentou alguma, eu adoraria saber. Assado de legumes – Briam Para pensar nas férias… Idades. Modelos Dou conta? Acervos – livros a voar […]
[…] Deixe seu livro ir […]